Observar construções atravessando monumentos

POR Vitor Cesar

No Monumento à Independência do Brasil, em São Paulo, é possível observar usos imprevistos do espaço - como skatistas e ciclistas que utilizam sua volumetria para realizar manobras. O monumento tem uma história polêmica: foi construído a partir de um concurso e o projeto vencedor, do artista italiano Ettore Ximenes, foi bastante questionado pelos artistas da cidade por conta de sua colagem de estilos, muitos deles sem sentido no contexto nacional.

Entre skatistas e intenções simbólicas é possível pensar numa desconexão entre distintas percepções, até mesmo contraditórias, do lugar. Como se a experiência cotidiana pudesse anestesiar um pouco a relação com a história e um visitante sugerisse que realizar manobras no monumento não fosse adequado. Mas por outro lado, pode ser interessante pensar que o espaço convida ao uso com ambiguidade, ou ambivalência. Que o monumento adquiriu outras narrativas, um cruzamento de sentidos. E que provavelmente já não faz sentido pensar nele sem skates, assim como sem sua história.

Na grámatica, a ambiguidade, também chamada de anfibologia, é a construção sintática incorreta de uma frase que permite mais de uma interpretação, uma ambiguidade de uma sintaxe. Se entendemos que etimologia da palavra sintaxe remete à ideia de disposição, organização, composição, podemos pensar a sintaxe para além da gramática, como na percepção dos espaços da cidade ou em proposições artísticas. Na cidade, as construções físicas estabelecem composições e disposições que produzem narrativas espaciais, que por sua vez produzem discursos, que voltam a produzir narrativas espaciais.

Pensando na anfibologia, revejo a noção de erro. A bifurcação (ou o cruzamento, ou o atravessamento) de significados pode ser a tentativa de invenção de coisas, ou narrativas espaciais, que resistem a uma categorização imediata, instantânea. Essa resistência pode ter uma potência de desconstrução de percepções já dadas do mundo - e nesse sentido, são políticas. Por isso, espaços ou lugares imaginados para dar sentido a ambivalências, como crianças brincando em espaços semelhantes a plenários, possivelmente abrem espaço para a invenção, como skatistas sobre monumentos.

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