Arquitetura são artefatos que permanecem. São prescritivos em sua origem - o desenho que programa o espaço, propõe posturas e determina condutas. O desenho projeta, lança-se à distância na tentativa de organizar a vida que, no embate cotidiano, rebate e subverte, reprograma e ressignifica.
Confrontos que informam aos desenhos como estes fatalmente serão traídos pelos usos em suas intenções originais. Arquiteturas são reorganizadas pelos corpos e atividades humanas, numa constante sobreposição e disputa discursiva frente ao modelo físico.
Tomada como sintoma de ideologias, uma arquitetura pode reascender ideais utópicos, deixar-se atravessar por outros elementos e presenças, dispor-se como exercício e questionamento sociopolítico. Um plenário, uma forma arquitetônica conhecida, um símbolo nacional que replicado a exaustão torna-se imagem desgastada, distante, como um cenário num evento midiático. Em oposição, uma instalação informada por este plenário, reedita essa forma como um modelo não afirmativo a ser ocupado.
Providenciar o necessário, dar lugar à ações e vozes distintas e dissonantes. Disparar inversões possíveis para que o imprevisível aflore, num processo instável e democrático, como nos demonstra o “jogo do poder” 1 .
Propor uma festa de aparelhagem contra o aparelhamento: pelo escorregar de crianças, com o movimento de atores, sob rampas e esconderijos, para meditar numa noite de festa, entre os objetos que guardamos, exibimos ou trazemos conosco, de tantas vozes femininas silenciadas, sobre o que plantamos e comemos, ante o desafio do corpo negro no mundo branco, por um movimento livre e presente dos idosos na cidade, após a soneca do senhor assíduo, sem ficha azul, desde Brasília, até Londres, perante o Ipiranga.